3 de maio de 2016

Os setes saberes necessários à educação do futuro

(Imagem editada por: Revista Fator Brasil)

Eu terminei a série de textos revoltosos sobre a educação com perguntas demais. Não pretendo respondê-las ainda, pois não sinto que construí essa competência o suficiente para fazê-lo. Fiz muitos progressos intelectuais relativos ao assunto entre o período de escrita e de conclusão do texto, mas esses progressos ainda estão em construção e para mim não faz sentido compartilhá-los sem que antes estejam completos. Sendo assim, decidi complementar essa série com um livro que me ajudou muito nessa nova caminhada à procura de respostas, que têm servido como guia na minha busca de novos aprendizados e que eu espero poder ajudar também aqueles que se interessaram ou se identificaram com os assuntos abordados na série.

O livro que resenharei (se é que se pode chamar isso de resenha) hoje é “Os setes saberes necessários à educação do futuro”, de Edgar Morin. Ele contém uma série de conhecimentos que vai muito além dos sete saberes, sendo capaz de contribuir em diversos aspectos de vida e estudo do leitor, se ele for capaz de interrelacionar os conhecimentos, afinal, essa é uma das falhas da nossa educação, apontada no livro: fragmentamos demais e, muitas vezes, podemos nos tornar incapazes de perceber as relações intrínsecas que existem entre os diversos tipos de saberes.

Sem mais delongas, vamos ao livro:

Os sete saberes

Ø  As cegueiras do conhecimento – o erro e a ilusão: É necessário introduzir e desenvolver na educação o estudo das características cerebrais, mentais, culturais dos conhecimentos humanos, de seus processos e suas modalidades, das disposições tanto psíquicas quanto culturais que o conduzem ao erro ou à ilusão;1
Ø  Os princípios do conhecimento pertinente: A supremacia do conhecimento fragmentado [...] deve ser substituída por um modo de conhecimento capaz de apreender os objetos em seu contexto, sua complexidade, seu conjunto. [...] É preciso ensinar os métodos que permitam estabelecer as relações mútuas e as influências recíprocas entre as partes e o todo em um mundo complexo;2
Ø  Ensinar a condição humana: [...] A condição humana deveria ser o objeto essencial de todo o ensino;3
Ø  Ensinar a identidade terrena: Convém ensinar a história da era planetária, que se inicia com o estabelecimento da comunicação entre todos os continentes no século XVI, e mostrar como todas as partes do mundo se tornaram solidárias sem, contudo, ocultar as opressões e a dominação que devastaram a humanidade e que ainda não desapareceram;4
Ø  Enfrentar as incertezas: [...] A educação deveria incluir o ensino das incertezas que surgiram nas ciências físicas [...], nas ciências da evolução biológica e nas ciências históricas. [...] devem-nos incitar a preparar as mentes para esperar o inesperado, para enfrentá-lo;5
Ø  Ensinar a compreensão: [...] a educação para a compreensão está ausente do ensino. [...] Daí decorre a necessidade de estudar a incompreensão com base em suas raízes, suas modalidades, seus efeitos. Este estudo é tanto mais necessário, porque enfoca não os sintomas, mas as causas do racismo, da xenofobia e do desprezo. Constitui, ao mesmo tempo, uma das bases mais seguras da educação para a paz, à qual estamos ligados por essência e vocação;6
Ø  A ética do gênero humano: A ética não poderia ser ensinada por meio de lições de moral. Deve formar-se nas mentes, com base na consciência de que o humano é, ao mesmo tempo, indivíduo, parte da sociedade, parte da espécie.7

Um breve comentário

Nesse curto, porém completíssimo, livro, Edgar Morin consegue expressar uma incontável quantidade de conhecimentos com poucas palavras; não é uma obra fácil ou rápida de se ler, acredito que deva ser lida com calma, para que as ideias sejam melhor absorvidas, isso porque em cada sub-divisão de capítulo constam muitas informações, e quando você é capaz de relacionar isso ao que já aprendeu sobre qualquer coisa (sempre remetendo ao seu próprio processo de educação) a leitura se torna ainda mais rica.

De todos os saberes, o que eu gostaria de destacar aqui é o número 6, pois se relaciona bem com o tipo de texto que eu gosto de produzir. Eu sempre tento trazer essa necessidade de compreender a vastidão de opiniões e possibilidades nos meus textos, e esse capítulo me ajudou a aprender muito mais e descobrir muitas outras coisas para adicionar no futuro. Cada texto que eu escrevo está, de algum modo, relacionado a outro que já escrevi, por isso optei por publicar essa série sobre a educação, mesmo sabendo que no futuro minhas ideias estarão muito mais maduras: porque para esse amadurecimento vir, eu tive que passar por essa primeira fase, e para garantir melhor compreensão dos leitores, talvez seja benéfico que acompanhem essas transições. Grande parte da minha argumentação nos textos posteriores se baseou em “Ensinar para a compreensão”, pois, ao meu ver, essa seria a melhor forma de a sociedade evoluir.

Destaquei uma passagem do capítulo que resume uma ideia que nunca tinha me ocorrido, porém perfeitamente coerente:

“Os obstáculos intrínsecos às duas compreensões [compreensão intelectual/objetiva e compreensão humana/subjetiva] são enormes; são não somente a indiferença, mas também o egocentrismo, o etnocentrismo, o sociocentrismo, que têm como traço comum situar-se no centro do mundo e considerar como secundário, insignificante ou hostil tudo o que é estranho ou distante”. MORIN, Edgar, 1921, p. 83, 84* (grifo meu).

Isso é algo que pretendo abordar muito doravante, pois ao tratar de assuntos polêmicos, como o feminismo, isso é o que se encontra no cerne da questão. Um assunto só se torna polêmico porque uma quantidade considerável de pessoas é incapaz de compreedê-lo devido ao seu egocentrismo. É necessário, ao tomar determinada posição em um discurso, ser capaz de compreender ambos os lados, de ver a racionalidade em cada um, de entender porque se dá sua existência, pois ao desconsiderar a fala do outro e querer impor a sua, por mais válida que ela possa parecer, o enunciador simplesmente se iguala àquele que julga ser incapaz de compreendê-lo.

Esse texto final da série ficou bem pequeno, só queria pontuar esses meus aprendizados e indicar a leitura, que pode ser benéfica para futuros debates de ideias e que pode ser proveitosa para compreender meus futuros posicionamentos em textos de opinião, em especial na área da educação.

Referências e notas:
*MORIN, Edgar, 1921 – Os sete saberes necessários à educação do futuro / Edgar Morin; tradução de Catarina Eleonora F. Da Silva e Jeanne Sawaya; revisão técnica de Edgard de Assis Carvalho. – 2 ed. Rev. – São Paulo: Cortez; Brasília, DF: UNESCO, 2011.
1 P. 15
2 P. 16
3 P. 16
4 P. 16, 17
5 P. 17
6 P.17, 18

7 P. 18

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