(Imagem: documentário A Educação Está Proibida) |
Além disso, sei que muitos não concordam que essa
seja sua função, mas os professores precisam apresentar o conteúdo de uma forma
que desperte o interesse dos alunos no que estão tentando transmitir. Eu sei
que é difícil e que a culpa não é só deles, mas, sendo bem sincera, é difícil
se manter concentrada as 7 horas da manhã em uma aula na qual o professor
simplesmente liga o projetor de slides, desliga as luzes e fica falando sobre
coisas que, no fundo, ninguém liga muito. Mas só porque não nos ensinaram a
ligar. Dizer que estamos aprendendo isso para “ser alguém na vida” não é
motivação suficiente para se manter acordado durante uma aula maçante. Já presenciei aulas nas quais só havia 1 ou
2 estudantes acordados. De mais de 30. Queria muito que
fosse exagero, mas não é. E isso só demonstra o que eu estou tentando explicar.
Os professores dão tantas aulas, em tantas escolas e
para tantos alunos, que o processo de ensino se torna mecânico, não há contato
real entre eles e seus alunos. Pouco importa ao educador os problemas pessoais
dos alunos e, na maior parte dos casos, mesmo que na escola exista um psicólogo
para isso, quem realmente precisa de ajuda não irá recorrer a ele. Se não há
contato pessoal entre os alunos e os funcionários da escola, é incoerente, até
inocente demais, imaginar que uma relação de confiança vá se estabelecer com
facilidade. Afinal, o aluno vê aquele psicólogo como membro de uma instituição
que o oprime de diversas maneiras (como já foi discutido).
Contudo, como eu disse, a culpa não é só dos
professores. As diretorias, que deveriam conhecer bem suas escolas, seus
alunos, seus professores, não os conhecem. E já houve casos, na escola em que
eu estudei, que não reconheceu sequer seus docentes (mesmo um deles estando
empregado lá há mais de 10 anos). Sendo assim, como não vê-las como pessoas
gananciosas que só se preocupam com o lucro e a imagem da escola, prescindindo
da aprendizagem verdadeira?
Não é culpa dos professores, no geral, como já disse,
pois mesmo que quisessem não teriam a liberdade para tratar os assuntos de uma
maneira diferente o suficiente para suscitar interesse e vontade de ir para a
aula todos os dias. No fim das contas, eles são tratados como os alunos, também
trabalham sob prêmios e castigos. Só que alguns deles decidem se confortar na
ideia de que são superiores aos seus alunos, privilegiados por ter sua presença
em sala, porque ele tem muito para ensinar.
Não consigo enxergar isso como correto. A escola se
tornar um ambiente hierarquizado só legitima a existência disso na sociedade.
Fingem que somos iguais, quando não é assim que se pratica. É bem aquele
ditado: “Faça o que eu digo, não faça o que eu faço”. Sabe como eu chamo isso?
Hipocrisia.
Não se faz um mundo diferente ou melhor simplesmente
reproduzindo e legitimando todos os valores já presentes nesse mundo. Uma
sociedade diferente encontra seu lugar quando as pessoas são capazes de
questionar seus valores, quando elas têm a possibilidade de discutir se é assim
que querem viver. Quando elas se veem como agentes do processo.
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