3 de maio de 2016

Sobre os professores

(Imagem: documentário A Educação Está Proibida)
Durante o texto eu culpei os professores algumas vezes, no entanto, estou ciente de que nem tudo é culpa deles, afinal, assim como seus alunos, eles obedecem ordens de “superiores”, e mesmo que queiram, nem sempre podem dar aula como melhor lhes couber. É preciso, no entanto, que os professores desenvolvam empatia com seus alunos. Para isso acontecer, tudo precisa mudar. As turmas precisam ser menores, as cargas horárias dos docentes precisam ser menos pesadas e as escolas precisam ser livres.

Além disso, sei que muitos não concordam que essa seja sua função, mas os professores precisam apresentar o conteúdo de uma forma que desperte o interesse dos alunos no que estão tentando transmitir. Eu sei que é difícil e que a culpa não é só deles, mas, sendo bem sincera, é difícil se manter concentrada as 7 horas da manhã em uma aula na qual o professor simplesmente liga o projetor de slides, desliga as luzes e fica falando sobre coisas que, no fundo, ninguém liga muito. Mas só porque não nos ensinaram a ligar. Dizer que estamos aprendendo isso para “ser alguém na vida” não é motivação suficiente para se manter acordado durante uma aula maçante. Já presenciei aulas nas quais só havia 1 ou 2 estudantes acordados. De mais de 30. Queria muito que fosse exagero, mas não é. E isso só demonstra o que eu estou tentando explicar.

Os professores dão tantas aulas, em tantas escolas e para tantos alunos, que o processo de ensino se torna mecânico, não há contato real entre eles e seus alunos. Pouco importa ao educador os problemas pessoais dos alunos e, na maior parte dos casos, mesmo que na escola exista um psicólogo para isso, quem realmente precisa de ajuda não irá recorrer a ele. Se não há contato pessoal entre os alunos e os funcionários da escola, é incoerente, até inocente demais, imaginar que uma relação de confiança vá se estabelecer com facilidade. Afinal, o aluno vê aquele psicólogo como membro de uma instituição que o oprime de diversas maneiras (como já foi discutido).

Contudo, como eu disse, a culpa não é só dos professores. As diretorias, que deveriam conhecer bem suas escolas, seus alunos, seus professores, não os conhecem. E já houve casos, na escola em que eu estudei, que não reconheceu sequer seus docentes (mesmo um deles estando empregado lá há mais de 10 anos). Sendo assim, como não vê-las como pessoas gananciosas que só se preocupam com o lucro e a imagem da escola, prescindindo da aprendizagem verdadeira?

Não é culpa dos professores, no geral, como já disse, pois mesmo que quisessem não teriam a liberdade para tratar os assuntos de uma maneira diferente o suficiente para suscitar interesse e vontade de ir para a aula todos os dias. No fim das contas, eles são tratados como os alunos, também trabalham sob prêmios e castigos. Só que alguns deles decidem se confortar na ideia de que são superiores aos seus alunos, privilegiados por ter sua presença em sala, porque ele tem muito para ensinar.

Não consigo enxergar isso como correto. A escola se tornar um ambiente hierarquizado só legitima a existência disso na sociedade. Fingem que somos iguais, quando não é assim que se pratica. É bem aquele ditado: “Faça o que eu digo, não faça o que eu faço”. Sabe como eu chamo isso? Hipocrisia.


Não se faz um mundo diferente ou melhor simplesmente reproduzindo e legitimando todos os valores já presentes nesse mundo. Uma sociedade diferente encontra seu lugar quando as pessoas são capazes de questionar seus valores, quando elas têm a possibilidade de discutir se é assim que querem viver. Quando elas se veem como agentes do processo.

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