3 de maio de 2016

A Educação Está Proibida (série)

(A educação proibida
Imagine ser o protagonista da sua educação)
Tudo começou com o documentário “A Educação Está Proibida”, dirigido por Germán Doin (disponível no Netflix), em homenagem ao qual denominei essa nova série. Em uma tarde qualquer, eu estava sem nada para fazer, então resolvi assistir a algum documentário. Passando pela lista do Netflix, deparei com o título “La Educación Prohibida” e logo me interessei. Tendo assistido a menos de 5 minutos do documentário, pausei e corri para pegar um caderno e uma caneta, porque a torrente de ideias que a película despertou na minha mente não podia cessar e eu não podia perder nenhum pedacinho dela. Diversos foram os produtos dessas ideias suscitadas pelo filme, sendo esse "texto de protesto" apenas um deles.

Depois que ingressei na universidade comecei a perceber inúmeras falhas na educação básica. Não na pública, como costumamos criticar, na privada mesmo, na que deveria ser “a melhor”. Eu ficava incomodada com o fato de nunca podermos discutir assuntos nas aulas, nem mesmo nas de redação, o que ajudaria a trabalhar a argumentação. Mas era um incômodo passageiro.

Assistir a esse documentário tornou meu incômodo permanente, e me fez ver diversas falhas que envenenaram minha educação. Sem certos princípios dessa educação deturpada, acredito que hoje eu seria uma pessoa melhor, porque aprendi muitos valores que considero errados, todavia estão tão incrustados em mim que é difícil me desfazer deles simplesmente. Como a competição.

Tudo na escola acaba se tornando uma competição. Principalmente no Ensino Médio, quando a maioria das escolas começa, desde o 1 ano, a focar no Grande Teste Definidor de Destinos (lê-se ENEM). Sou uma pessoa bastante qualificada para dizer que isso só suscita sentimentos ruins e é maléfico para o aprendizado porque já tive problemas com amizades devido a isso, e com aprendizado também. Em determinado momento eu não consegui separar a amizade da competição para passar no vestibular. Em determinado momento eu não consegui parar de estudar mesmo sabendo que não estava aprendendo nada.

Nesses momentos, os professores eram como aqueles vendedores de apostas, que ficam colocando lenha na fogueira para receber mais dinheiro; incendiavam nossas mentes dizendo que “o colega ao lado pode ser aquele que vai tirar a sua vaga”.

Passei muitas vezes pela situação de os professores perguntarem, de um em um, que curso gostaríamos de fazer. E era perceptível a tensão no ar. Todos torcendo para ninguém mais querer o mesmo curso, para ter “menos concorrentes”. Mais tarde eu ainda vou tratar um pouco dessa competição desnecessária e pontuar um questionamento que eu espero poder ser respondido por alguém que se dispuser a ler isso.

Agora, voltando ao assunto. Durante toda a minha trajetória escolar eu fui bastante reprimida, porém na hora eu não percebia isso muito bem – infelizmente os efeitos disso ainda se fazem presentes hoje. Minha criatividade, minha imaginação, minhas ideias sempre foram vistas como “grandiosas” e “impossíveis” demais. Ninguém me dava corda. E se não fosse alguém que se tornou, hoje, um grande amigo, talvez eu ainda pensasse o mesmo.

Esse documentário me fez ver que minhas ideias não têm nada demais, elas só não estão exatamente inseridas no esperado dos alunos. Aposto que um monte de gente também tem ideias assim, mas não tem coragem (como eu já deixei de ter) de contar para os outros com medo de rirem e acharem besteira. Desse modo, pude perceber o processo de homogeneização aplicado nos alunos; “é ruim ser diferente”. Não que todos sejam iguais, mas a maioria segue um padrão. Eu percebi isso quando comecei a ter dificuldade para encontrar amigos como eu, que sonham muito mesmo, que questionam e não apenas aceitam que “a vida é assim”.

Eu fiquei muito chateada quando fui percebendo isso, porque a vida é do jeito que a gente quiser. Parece até que as pessoas esqueceram que nós possuímos o poder de mudar a realidade. Ora, o mundo já passou por tantas transformações sociais, tudo porque algum doido teve coragem de testar suas ideias. Tamanha é essa verdade, que se você pensar bem genericamente, o que foi o holocausto? A ideia de um homem que não estava satisfeito e queria mudar a realidade em que estava inserido. O que foi a Revolução Francesa? A ideia de pessoas que estavam insatisfeitas e queriam melhores condições. Todas as ideias partem de pessoas, cabe a cada uma decidir se vale a pena colocá-las em ação ou não.

Só que sempre pareceu para mim que ninguém gostava das minhas soluções mirabolantes para os problemas do mundo, ou meus planos de vida bem sonhadores, porque eles estavam fora do real. Nunca entendi que realidade era essa, mas tudo bem. Então, durante um tempo, eu comecei a ter sonhos “menores”, comecei a tentar ser outra pessoa, fui me afastando dos meus amigos... E aí eu percebi. Não era assim que eu queria ser, não era assim que eu queria viver se fosse o único remédio para “me encaixar”.

Mas isso aqui não é uma auto-biografia, é um texto de protesto. Acontece que a escola fez parte da minha vida. Digo mais, construiu grandes porções dela, foi responsável por importantes escolhas que eu fiz e por diversas ideias que eu tenho. Então não poderia deixar de falar da minha vida quando quero falar da minha escola, da sua escola, da escola tradicional/padrão desse país.

Nesse ponto eu estava explicando o porquê de eu ter ficado com raiva da escola. Já passamos por alguns pontos: os valores deturpados (como a competição), a repressão da criatividade e imaginação, a homogeneização dos alunos e o conformismo. Também tem a questão das notas, que eu nunca entendi direito a razão da existência (claro que elas são necessárias em teoria e seria muito mais difícil para os educadores encontrarem um modo de verificar se os alunos estão compreendendo o que estudam, mas eu sei que existem outros métodos e, no momento, não importa se são mais difíceis ou não. Existem), da rigidez na grade curricular e falta de opções de matérias extra-classe (não vale esportes) e da repressão geral à qual estão sujeitos não só os alunos, mas também os professores.

Agora que todos estamos inteirados nos meus motivos de revolta, falta só um ponto a ser tocado antes de continuar o texto: “E quem você pensa que é para estar dando tantas opiniões por aí?”. Ora, mas é claro que eu não me daria ao luxo de escrever um texto tão grande sem ter lido um mínimo sobre o assunto. Todavia, a priori, escrevi com base em minhas experiências pessoais como aluna, em experiências de pessoas que eu conheço, experiências comuns. Porque quando somos alunos ninguém nos dá voz, então antes de qualquer coisa, quero dar voz à aluna reprimida que guardo dentro de mim. Além disso, essa é uma das coisas que mais critico na série, a falta de participação dos alunos. Então pelo menos uma vez, vou-me deixar participar.

*** Os textos dessa série foram escritos em uma linguagem bastante coloquial, sem muito apelo a teorias complexas, uma vez que seu objetivo é meramente compartilhar ideias. Isso foi escrito em fevereiro de 2016 e desde então já estudei mais e mudei algumas opiniões sobre o assunto e descobri a resposta da maioria das questões, todavia ainda estou estudando mais para poder escrever textos mais completos e embasados sobre educação. 

A razão de eu ter decidido postar isso mesmo depois de tanto tempo e já com muitas elucidações sobre o assunto pode ser dividida em três partes: em primeiro lugar, acredito que possa ser útil para a compreensão de meus futuros textos sobre o tema que se saiba a origem deles, a origem do meu interesse pela área e como se deu o início desses estudos; em segundo lugar porque acredito que escrever isso foi importante para o meu amadurecimento, pois tive de me adaptar a uma nova maneira, mais pessoal, de tratar um tema para garantir a abrangência de sua compreensão; e, em terceiro lugar, porque a minha revolta com o tema e subsequente estudo sobre me levou a tomar uma decisão que irá mudar minha vida e sobre a qual pretendo escrever em breve, então ler isso pode ser interessante para quem quiser entender melhor a razão que me levou a querer fazer o que farei (para não estragar a surpresa só voltarei a escrever sobre quando acontecer).

Além disso, essa série de textos é muito honesta. É a pura expressão de sentimentos que guardei por muitos anos e, talvez, mais alguém compartilhe desses pensamentos e, assim como eu, passe a buscar soluções. 

Escrevo muito sobre assuntos sérios, impessoais. E poderia ter tornado essa série mais nesse estilo, mas optei por deixar assim. Se for besteira, não demorarei para descobrir.

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