21 de janeiro de 2016

Por que as feministas são tão chatas?


O texto original ficou muito grande, então vou dividir esse assunto em três partes, pois quero evitar quaisquer problemas. Ainda pretendo falar mais sobre isso no futuro, quando tiver mais ideias e conhecimentos a agregar nesse âmbito, afinal, esse é um assunto delicado, com muitos pormenores, que não dá para discutir de uma só vez.

Introdução

Uma das razões para esse assunto estar cercado de tabus e preconceitos é porque ainda existe muita gente que acredita que o feminismo não serve para nada, que são mulheres querendo ser superiores e, acima de tudo, mulheres chatas. Assim como ocorre com todos os movimentos de minorias, o feminismo também é vítima de inúmeras calúnias e casos de extremismos dentro do próprio grupo - e apesar de não ser tão extrema em minhas ações, tenho certeza de que se não fosse por elas não haveria tanta atenção voltada ao movimento, portanto, são necessárias.

Antes de mais nada, temos que começar clamando para que se perceba a inutilidade desses desentendimentos dentro do próprio grupo. Vejo muitas feministas que se acham superiores porque fazem parte do movimento há mais tempo, porque são mais velhas, etc. Para tudo funcionar melhor, acredito que a proposta deveria ser mais didática e em vez de menosprezar as "novatas" na luta por seus direitos, as que conhecem melhor o movimento poderiam ensinar mais sobre como elas podem colaborar, compartilhando materiais e informações.

A organização e solidariedade dentro do grupo são essenciais para alcançar ainda mais objetivos, pois quanto mais mulheres estiverem informadas e se sentirem parte dessa luta, se sentirem irmãs umas das outras, mais força teremos para lutar. Se você acha que uma menina não pode ser feminista porque é muito nova, seus conceitos precisam ser revistos urgentemente, afinal, as crianças sofrem tanto com o machismo quanto as adultas. Sofrem porque precisam ser delicadas, brincar de Barbie, usar rosa, são “frágeis”, precisam de “mais cuidados”. O machismo é ensinado desde cedo e é nessa idade que deve ser combatido, para que mais mulheres cresçam conscientes de sua força e capacidade.

E mais uma coisa, as próprias mulheres precisam parar de associar a palavra “feminismo” a algo ruim. As feministas não são “invejosas”, ou mulheres desocupadas e infelizes, como tentam pregar por aí. São apenas mulheres que não querem aceitar a situação de desigualdade à qual são submetidas. E não é preciso ir muito longe para se identificar com isso, é só pensar em todos os abusos verbais que você já pode ter sofrido só por ter decido usar decote certo dia, ou uma saia muito curta, ou por ter ficado com muitos meninos em uma festa.

Além disso, precisamos parar de pensar que as feministas precisam ser masculinas, não usar sutiã, etc. Muitas feministas andam arrumadas, e quando o fazem (esse é o único diferencial), o fazem para si e não para chamar a atenção dos homens. Elas usam as roupas que as deixam confortáveis, a despeito do que os outros podem pensar, pois em um mundo igualitário, se um homem pode sair sem camisa e essa atitude ser associada ao calor, uma mulher deveria poder sair de top – ou mesmo sem camisa também – e ocorrer o mesmo. Então parem de tentar associar o feminismo a coisas negativas. O movimento nada mais é que a luta pela igualdade (e não superioridade, como muitos também afirmam) entre os sexos.


Chatices 

Agora sim, vamos ao que interessa. Por as feministas são tão chatas? Porque tudo o que incomoda é chato. E, geralmente, o que mais incomoda é a verdade, escancarada e gritante para todo mundo ver. Incomoda ler todos os dias na timeline do Facebook relatos de meninas que sofreram abusos no ônibus, no metrô, na rua, porque estavam usando uma roupa curta, porque tinham colocado muita maquiagem, porque eram bonitas, porque eram mulheres. É chato mesmo ver que em pleno século XXI as pessoas ainda têm coragem de culpar a mulher pelo estupro e, pior ainda, enterram as ideias machistas tão profundamente em suas cabeças que muitas delas também se culpam. Realmente, é muito incômodo saber que uma em cada cinco mulheres será estuprada e que, na maioria das vezes, o agressor sairá impune, porque a culpa foi dela, que nasceu do "sexo frágil". Esse termo sozinho, inclusive, consegue ser também muito chato. Por que fragilidade e mulher estão associados, em vez de força e mulher, poder e mulher?

Isso já é histórico, devido à sua força física biologicamente inferior a dos homens as mulheres sempre foram subjugadas, contudo, foi em um momento específico que tudo piorou. Nesse momento, as mulheres foram proibidas de tudo, até, e principalmente, de sentir prazer. E é por isso que, desde a Idade Média até (infelizmente) os dias de hoje, ainda se olha feio para mulheres que falam abertamente sobre sexo, que se relacionam com muitos homens. Então, por muitos séculos, as mulheres foram produtos de troca, os dotes surgiram, os casamentos arranjados, e nenhuma delas podia opinar, apenas aceitar em silêncio.

Foi preciso que a sede do capitalismo por mais mão de obra chamasse, na Revolução Industrial, para que as mulheres fossem permitidas de sair do âmbito familiar para começar a trabalhar. Trabalhavam como os homens, mas a situação estava longe de ser a mesma para ambos. As mulheres ganhavam menos e, mesmo séculos depois, já com a Terceira Revolução Industrial em andamento, é vergonhoso saber que isso não mudou – no Brasil, homens ainda ganham aproximandamente 30% a mais que mulheres de mesma idade e nível de instrução, como mostra essa pesquisa realizada pelo Banco Interamericano deDesenvolvimento (BID) . Naquela época de extrema desigualdade social, quando ter um carro ainda era um luxo e estudar era impensável para os menos afortunados, as mulheres sofriam. Hoje, com o acesso à educação muito maior em comparação, é triste ver quantas coisas ainda são iguais, quantas mulheres estudam tanto para tirar 10 e ganhar o mesmo que um homem que só tirava 5.

Mas pelos menos existem mulheres que podem estudar. Reclamamos de boca cheia aqui no Ocidente, pois é só olhar para a situação das mulheres no Oriente Médio que vemos que a luta das feministas ainda tem um longo caminho a trilhar. Muitos homens argumentam que deveríamos, então, ir pregar o feminismo lá no Oriente, como se fosse a coisa mais fácil do mundo, como se não significasse risco de vida real para qualquer mulher que se atrevesse. Quando se está em uma situação de poder, olha-se com dificuldade para os “inferiores”, pois muitas vezes não se consegue colocar em sua situação.

Alguns homens se revoltam tanto com nossas reclamações que acham que se pode menosprezar o sofrimento de uma mulher abusada verbalmente no Ocidente porque se fosse no Oriente ela seria apedrejada. As culturas são diferentes, as realidades são diferentes. É fácil falar isso quando se é homem e só se faz reclamar dessa luta, porque nesse caso não é preciso levar em conta todo o trabalho real que daria se as feministas realmente se arriscassem a pregar no Oriente e tentar ajudar as irmãs desses países. Essas mulheres vivem em um mundo completamente alheio ao nosso, onde a religião domina e o machismo dita as regras. Sim, para nós ocidentais a vida é um pouco mais fácil, nenhuma mulher aqui vai ser alvejada em praça pública por trair o marido. Mas toda dor é dor, não se pode ver uma em detrimento da outra só pelo fato de parecer menos séria.

As mulheres do Ocidente se preocupam com as mulheres do Oriente; infelizmente não é só pegar um avião, pousar em um país árabe, por exemplo, e começar a queimar sutiãs. A não ser que você queira ser morta. A nossa luta começou há anos, porém a delas ainda é recente, porque os princípios religiosos ainda vigoram lá com muita força - e a fé religiosa é uma das forças mais poderosas do mundo –, portanto, não é da noite para o dia que essa fé se esvairá a ponto de, como aconteceu aqui, começar a abrir espaço para as mulheres possuírem papeis mais dignos na sociedade. Infelizmente, ainda serão precisas outras Malalas para que a história dessas mulheres possa mudar. Seria bom se fosse fácil, entretanto, se o fosse, as coisas não estariam assim hoje.


Por isso, os homens que utilizam esse tipo de argumento precisam entender que da mesma maneira que (exemplo banal) tratar bem os convidados é um valor intrínseco à sociedade brasileira, especificamente, na cultura desses países é o tratamento das mulheres como inferiores, tanto que elas próprias o interiorizam, muitas o defendem. Alienação? Quase. Se chama cultura.

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